segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pecado original (de Alma Welt)


Rumo ao Batistério (a Açoriana com Alma na charrete do Galdério)-óleo s/tela de Guilherme de Faria

Pecado original (de Alma Welt)

Quando guria, escutei a discussão
De minha mãe, Mutti, a Açoriana,
Com meu pai, o Maestro bonachão
Que tentava acalmá-la em sua gana

De açoitar-me com vara de marmelo...
E ouvi o que dizia, furibunda:
“Tu não vês que sua honra assim eu velo,
Que é maneira de esconder aquela bunda?”

“Tu és culpado de tirar-me ela do seio,
Que já ia de charrete com Galdério
E da estrada já estávamos no meio,”

Condenando-lhe a alma a este mal,
Pois que eu a levava ao batistério
Pra livrá-la do pecado original!...”

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Alfaite da Bessarábia (de Alma Welt)


O Alfaite da Bessarábia- óleo s/ duratex de Guilherme de Faria, 1970, 50x60cm (fase baconiana)

O Alfaite da Bessarábia (de Alma Welt)

Quando eu morava em Novo Hamburgo,
Antes de mudar-me para a estância,
Havia um alfaiate nesse burgo
Que era parte feliz da minha infância,

Pois eu ia visitá-lo amiúde
E vê-lo cortar e costurar
(e muito fiz isso enquanto pude)
Belos ternos, de vestir e deslumbrar

A clientela que o expulsou dali
Quando um cartucho ele botou
Na porta, com a estrela de Davi...

Mas seu Marcus de mim se despediu
Me dando um coletinho que cortou
E que usá-lo minha mãe me proibiu...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Entre as flores (de Alma Welt)

Entre as flores do meu jardim materno
Brinquei, cresci e ainda me vejo.
Sem elas na alma faz-se inverno
Ou tendo a ver a vida sem desejo...

O que se torna um limbo, quase morte,
Como envelhecimento prematuro
Ou como as névoas muito ao norte
De mim mesma, do meu ínclito futuro.

E ao me ver brincar entre suas flores,
Na Açoriana a dureza se abrandava,
Esquecia por momentos seus rancores,

Ao menos de parir-me e já perder-me
Para o mundo maior em que eu estava
Pelas mãos de meu pai ao recolher-me...

(sem data)