domingo, 6 de novembro de 2016

A maternal calúnia (de Alma Welt)

Minha mãe me acusou de amar a arte
E tão somente a arte e nada mais.
Isso é calúnia maternal de sua parte,
Em matéria de amor estou em paz.

A vida e o amor matéria prima são
Dos versos, que no sangue se diluem
E nada mais sustenta o coração
Por onde sangue, amor e arte fluem.

Mãe, sei que a tua forte intolerância
Existe porque que temes minha constância
Que, pensas, leva à solidão e à dor.

Mas um só poema leres não te custa,
E no mínimo verás como és injusta
Pois não haverá boa poesia sem amor...

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06/11/2016

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

As lágrimas no armário (de Alma Welt)


Minha mãe tinha medo da Poesia,
Que ela dizia levava pra sarjeta,
Que corromperia a sua guria
E que não merecia uma gorjeta...

Entretanto malgrado a ignorância,
Minha mãe era tão bela figura
Que era imprescindível aqui na estância
Por sua elegância e compostura.

E eu a olhava e deplorava
Como podia uma tão distinta dama
Ter em sua alma aquela trava...

Até que um dia a peguei lendo meu diário

E depois de longo tempo num armário
Uma lágrima pousou em sua cama...


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26/09/2016

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A Morte da Açoriana (II) (de Alma Welt)


Dizia minha avó: "Tudo são fases",
Quando junto dela eu me encolhia.
Então não demorava a fazer pazes
Com aquela de quem me ressentia...

Que era sempre a mesma "Açoriana",
Minha bela e pobre mãe intolerante,
Dos Morgados a primeira filha, Ana,
Que não me deixaria ir avante.

Assim pensava eu, em rebeldia
Querendo apenas escrever e fazer arte
Coisa que ela não me compreendia...

Mas quando ela morreu, fez-se um vazio
Como se me faltasse alguma parte
Que eu teria que preencher pra ser um rio.

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18/08/2016